Tínhamos todos os sonhos do mundo. Estudávamos, alguns de nós frequentávamos os nossos cursos de ensino superior outros trabalhavam, mas sentíamos que tudo era possível. Não sei se todos queriam mudar o mundo. Seja como for, mesmo que de forma diferente e por diferentes razões, foi no que tínhamos de comum que encontrámos o projecto de criação de uma associação. Precisamente para mudar o nosso pequeno mundo. O mundo da terra que nos viu nascer. Vimos que quando o espaço parece não existir podemos criá-lo. Decidimos que passaríamos a actores em vez de espectadores na transformação do legado que os nossos concidadãos de outras gerações nos deixaram. Como tantos outros pouco ou nada sabíamos de associações mas aquilo que alguns de nós sabiam, em conjunto com o que outros nos ensinaram ou ajudaram, foi suficiente para darmos os primeiros passos. Estou certo que nenhum de nós nem nenhum daqueles que há vinte e cinco anos a nós se juntou alguma vez imaginou que o ATV se tornaria naquilo que é hoje. É aliás um exercício interessante tentar regressar ao passado e daquela posição tentar lembrar a visão que tínhamos do futuro. Mas atenção, desengane-se quem pensar que cedo não houve uma visão e um pensamento estratégico. Existiu, passou a escrito, e vinculou cedo o ATV a uma matriz associativa que muito mais tarde, outros embora poucos, abraçaram ao nível da organização e gestão associativa. Não julgo termos sido seguidos, e até há bem pouco tempo, embora conhecidos por todo o país, esse conhecimento existia mais em certos nichos e contextos. Simplesmente, também na gestão associativa, mesmo que devagar, o país evolui atrás de modelos internacionais ou seguindo boas práticas de gestão aplicadas. Hoje, como há 25 anos, há algo que nos distingue de forma mais clara e que ganha agora contornos identitários. A ideia primitiva de mobilizar um a um, do traz um amigo também, associada à vontade de realizar sonhos próprios, anseios colectivos, contribuir para uma sociedade mais justa, igualitária e livre, simbolizada e verbalizada na expressão que já nos acompanha há mais de 10 anos, Vive o melhor de ti! Ontem, fruto da comemoração dos 25 anos da feliz decisão de criar o ATV, enquanto sócio fundador, relembrei com emoção a banhar-me os olhos, muitos bons momentos de desafios, esforço, celebração, convívio, negociação, preocupação e entusiasmo, pois para além de ajudá-la a nascer fui também dirigente voluntário durante muitos anos, arrastando família e amigos e todos os demais, que durante muitos anos comigo se cruzaram, para fazer parte do ATV. A inscreverem-se. Inscreverem-se como José Gil escreveu. Inscrever de comprometer, fazer parte, ser parte, partilhar, dar e com isso, sem o esperar, receber. Receber em significado para a vida, em desenvolvimento e realização pessoal, em rede social, em saberes e em bem-estar. Tenho orgulho do contributo que tive a possibilidade de dar e estou muito agradecido por tudo aquilo que esse tempo investido no ATV ainda hoje me permite receber, particularmente no orgulho numa organização que evoluindo, trilhando novos caminhos, envolvendo novas pessoas, consegue renovar-se até hoje, inovar, ser referência, crescer, ser autónoma de figuras paternalistas ao mesmo tempo que reconhece o seu passado e mantém uma linha condutora fundacional e histórica. Uma organização que desde cedo reconhece o mérito dos seus associados e daqueles que na comunidade envolvente contribuem para fomentar os valores que persegue. Os seus dirigentes têm sempre servido, e servindo o ATV têm servido a comunidade. Têm servido o concelho e o país. Tomando em mãos e fazendo para além da crítica ao que está por fazer, mais do que se perguntando o que se pode fazer por todos, fazendo efectivamente por todos, com o tempo da família, outras vezes em detrimento de mais umas horas a trabalhar. Embora não existam outros ATV existem muitas outras associações onde podemos encontrar muitas das coisas acima descritas. Não são associações empresa, apenas de alguns familiares ou pseudo sócios como que numa sociedade comercial disfarçada. O ATV também não é uma associação apenas de sócios “recolectores” - que apenas colhem sem semear - mas sim de sócios transformadores, de si e dos outros, agentes de mudança, corajosos ao abraçarem os seus sonhos, largando alguns egoísmos, partilhando sem deixar de ser e querer ser mais e melhor, cooperando e chamando outros a cooperar, assumindo uma responsabilidade cívica que de tantas vezes abdicamos, fazendo o esforço para pensar e discutir ideias resistindo a boatos e pensamentos únicos. Agora, tem lugar o futuro. Não faço ideia de como será. Gostaria apenas que pudesse continuar diferente e adequado ao que a comunidade onde se insere necessita, que vença o desafio da inércia dos homens, principal inimigo de uma cultura cívica participativa, que vença o imediatismo do conforto a todo o custo e dos bens materiais e da concorrência como valores elevados a princípios ou direitos universais humanos, em prol, como disse o seu actual Presidente da Direção Valter Lucas, de mais coesão social. Obrigado e parabéns ATV, que é como quem diz obrigado a todos os que acreditaram e acreditam na sua ação e parabéns a todos os que hoje como no passado o fazem ser o que é com o seu trabalho. Um abraço especial aos meus amigos fundadores Nuno Pinheiro dos Santos, Joaquim Carvalho, Ivan Tovar Martins, Nuno Bettencourt, Rui Estrela da Silva e Pedro Estrela da Silva.
0 Comentários