Miranda... para mim o Zé António

Se o meu universo infantil foi povoado por livros de banda desenhada da Disney, os Patinhas, Mickeys e outros tantos, ou de outras paragens como os Blueberry, colecção Falcão, Mascarilha, Mafaldinha e eu sei lá mais... muitos mais, isso se deveu antes de tudo à oportunidade que o meu primo Zé António me concedeu. Tinha tantos títulos de tantas coleções que o stock deu para alguns anos de leituras. Uma arrecadação com milhares de livros. Obrigado!
Se eu tive a possibilidade de brincar com legos e criar mundos a partir de tantas peças não identificadas, com mil e uma opções, sem grandes sofisticações nessa altura, fazendo com que a minha existência de filho único ganhasse muito mais cor e formas... foi porque o meu primo Zé António me fez um empréstimo de longa duração. Obrigado!
Se hoje posso contar uma pequena estória de apanha de marisco, não é por alguma vez ter ido apanhá-lo... mas sim porque fui ver apanhar caranguejos para a praia de Santa Cruz, junto ao penedo do Guincho... segurando um saco para onde, depois de movimentos intrépidos com mãos nuas, o meu primo Zé António os colocava. Obrigado!
Se aos 14 anos ganhei alguma coisa (um blusão de ganga com pelo branco tipo carneiro) por saber dactilografar, depois de o ter aprendido na disciplina de práticas administrativas, foi porque o meu primo Zé António me encomendou um "trabalho". Obrigado!
Se eu cedo comecei a acampar e a fazer férias muito autónomas pelos meus 15-16 anos.... devo ao meu primo Zé António que me emprestou a sua tenda "canadiana". Era laranja e pesada como todas naquele tempo e proporciono-me muito boas memórias e a estreia consciente no campismo. Obrigado!
Foram muitos dias de Natal passados na casa do meu primo Zé António. A ver e jogar "à sueca", enquanto os ouvia, a ele e ao meu pai, a zombar das cartas que eu não tinha contado e da "regra" que não tinha cumprido na assistência numa cartada. Ele que gostava de petisco e de petiscar, juntar amigos e família. Disso, e do campismo e da pesca onde muitas vezes se refugiava. Quando há 2 anos e pouco atrás, pouco tempo depois da morte do meu pai, a minha mãe caiu sozinha em casa partindo o úmero, foi o Zé António que me descobriu na Gala da Física para me dar a notícia enquanto a sua madrinha e minha mãe era transportada para o Hospital.


O Zé António gostava muito de me dizer que, eu era assim, como ele me via, porque um dia ao dar-me balanço num cavalinho de madeira, quando eu teria uns 2 anos, fosse pelo empurrão ser com mais força ou eu ter-me despegado...caí e bati com cabeça, tendo sido muita a aflição e poucas as consequências então.
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Há alguns anos lutou e controlou uma doença tramada que o fez sofrer mas não deixar de viver. Essa batalha ganhou.
Em Agosto deste ano, alguns dias antes do seu dia de aniversário, caiu fortuitamente e bateu com a cabeça. Já no hospital viria a perder os sentidos. Pouco depois entrou em coma.
Pai e avô babado, no passado Domingo, dia 17 de Novembro, aos 59 anos, o meu primo Zé António, o Miranda para muitos, faleceu, deixando-me estas e muitas outras boas memórias bem vivas.

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